Mês de janeiro lembra Lenine Póvoas

Filho único de um casal de intelectuais (Nilo Póvoas e Rosa de Campos Póvoas) teve uma educação primorosa com oportunidades de, na infância e na adolescência, usufruir dessa condição.

Conheci Lenine enquanto jovem. Ele morador da Avenida Presidente Vargas. Eu moradora da Rua 24 de Outubro, em Cuiabá. Tive a oportunidade de receber dele algumas explicações quando aluna do Liceu Cuiabano, antigo Colégio Estadual de Mato Grosso. Mais tarde, tive o prazer de beber da sua sabedoria, para a escrita da história do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, por meio de Dona Arlete Póvoas, sua esposa.

O nome Lenine foi um desejo de seu pai, pois como o próprio Lenine Póvoas confessou, esse desejo externava uma insatisfação de seu pai, ao sentir-se preterido e por viver em sérias dificuldades econômicas: (…) o meu nascimento foi por ele encarado como uma oportunidade para externar sua revolta e para magoar os poderosos da política local. “Assim, decidiu dar-me o nome de Lenine, que naquele momento encarnava, no mundo, uma bandeira de luta contra as desigualdades e injustiças sociais”, em Nilo Povoas, um mestre.

Essa atitude pode encontrar justificativa na própria árvore genealógica, pois, ainda segundo o Dr. Lenine: Os Póvoas são originários, remotamente, do norte de Portugal, da região de Póvoa de Varzim, Barcelos e Braga. O primeiro ancestral de que se tem notícia, no Brasil, foi Joaquim de Mello Póvoas, Capitão General da capitania do Maranhão, no século XVIII, à mesma época em que Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres governava Mato Grosso.

Lenine foi profundamente influenciado pelo pai, cujas atitudes moldaram sua personalidade e caráter, influência possível de ser observada quando assim ele escreveu: Meu pai nunca foi elitista na escolha dos companheiros de infância para o filho. Sempre escolhi os amigos segundo minha própria preferência e, muitos, nascidos nas classes humildes do nosso bairro. Os garotos do Beco Sujo, situado nos fundos da nossa casa, sempre foram companheiros de peladas nas sombras dos velhos e lindos tarumeiros que pintavam de roso o caís do porto, em frente ao rio Cuiabá.

Lenine concluiu os estudos primários e secundários em Cuiabá. Bacharelou-se em 1945 em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil. Enquanto estudante lecionava Geografia nos Colégios Paula Freitas, Ruy Barbosa, Anglo-Americano e Andrews, no Rio de Janeiro, onde conheceu sua esposa Arlete Gargaglione Póvoas e, onde realizaram suas núpcias.

Sua vida pública é vastíssima e cheia de elogios. Não se ateve apenas ao universo do Direito. Atendeu aos anseios literários e de educador. Durante a sua vida sempre enveredou pelos caminhos das letras e da produção intelectual. Foi professor de Geografia Humana na Escola Técnica de Comércio e titular da Cadeira de Direito Penal da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Desenvolveu a arte da pesquisa e da escrita, o que lhe possibilitou publicar inúmeras obras nas áreas da geografia, história, cultura e literatura.

No entanto, o senso de justiça cultivado em Lenine pelos pais, conduziu-o à vida pública. Foi Deputado Estadual (1947-1950 e 1951-1954), sendo na primeira, Constituinte. Participou ativamente da criação do TCE-MT, onde mais tarde foi Juiz, Ministro, Conselheiro, Vice Presidente (7/01/1955), Presidente (06/01/1956-1960 1961), Vice Presidente (05/01/1956-1960). Vice-governador do Estado de Mato Grosso, eleito pelo voto direto a 03 de outubro de 1965. Diretor Superintendente da Companhia Mato-grossense de Mineração (METAMAT). Secretário e criador da Secretaria de Estado de Administração, no governo José Fragelli. Chefe da Casa Civil, no governo de Édson de Freitas.

Foi o primeiro Presidente da Fundação Cultural do Estado de Mato Grosso, no governo de José Garcia Neto, hoje Secretaria de estado de Cultura, ocupada por uma mulher, Janete Riva.

No jornalismo foi jornalista fundador do órgão estudantil “A Centelha”. Colaborou com “A Batalha”. Escreveu em outros periódicos. Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e da Academia Mato-grossense de Letras, entre outros. Ocupou, na Academia Mato-grossense de Letras, a cadeira nº 33, patrocinada por Mariano Ramos e, ocupada anteriormente por Nicolau Fragelli. Recebeu diversas condecorações.

Publicou muitos livros, entre eles Radiografia de Mato Grosso (1967), Mato Grosso, um convite à fortuna (1977), História da Cultura Mato-grossense (1982), Síntese da história de Mato Grosso (1985), O Estado de Mato Grosso (1985), História Geral de Mato Grosso – Volumes I e II (1996) e muitos outros.

Em trajetória sempre ascensional, conseguiu como poucos assegurar que a força de sua cultura e de ideias brilhasse contínua e intensamente. Nasceu em 04 de julho de 1921, em Cuiabá e faleceu em sua cidade natal em 29 de janeiro de 2003, aos 82 anos de idade, deixando um tributo inestimável e incomparável valor à política, à administração pública, à História e à cultura mato-grossense. Escreveu Mato Grosso como ninguém jamais escreveu.

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O Almanaque Cuyabá é um verdadeiro armazém da memória cuiabana, capaz de promover uma viagem pela história em temas como música, artes, literatura, dramaturgia, fatos inusitados e curiosidades de Mato Grosso. Marcam presença as personalidades que moldaram a cara da cultura local.